quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Tudo por um pedacinho de Brasil

Para ganhar uma coisa, você precisa renunciar outra, isto é algo que todos que moraram fora já experimentaram. Eu fui para a China com 2 anos de idade, mesmo sendo bem nova, eu já falava bem o português e lembrava muito bem de como era minha pátria. Nos 15 anos que morei na terra do dragão renunciei muitas coisas, na verdade eu não escolhi isso, fui para lá com meus pais.

Eu conhecia pouco do Brasil e quando me perguntavam do que eu mais sentia saudade a resposta era sempre a mesma: “Da família(primos, tios) e da comida brasileira”, pra ser mais exata eu adorava coxinha, guaraná, chocolate garoto, paçoca, bom, tudo que não tinha na China.

Quando fomos para cidade de Kunming pela primeira vez em 1997, mesmo sendo capital da província de Yunnan, não existia desodorante, fralda descartável e muitas outras coisas essenciais para comprar, até shampoo era algo novo, pra mim não fazia diferença, o que faltava para uma criança era a minha coxinha, o guaraná e os bombons.

Sempre que voltávamos para o Brasil enchíamos as malas de coisas gostosas. Chegando na China, dividíamos tudo precisamente, era 1 bombom por dia por pessoa, e quando chegava no final, era 1 bombom a cada 2 ou 3 dias. O mesmo servia para outros docinhos, café, até feijão. Mesmo assim, eles acabavam rápido e em poucos meses, nosso estoque durava pouco, éramos em 5.



Já haviam anos que eu não tomava um gole de guaraná, eu sempre sonhava que estava com minha avó comendo essas coisas “brasileiras”, era muito triste quando eu acordava no dia seguinte, era o único momento que eu sentia um pouco mais próxima do Brasil.

Em 2008, durante as olimpíadas de Pequim, vários brasileiros passaram pela nossa casa para nos visitar, e pela primeira vez, alguém levou uma garrafa de guaraná (2 litros), foi quase um refúgio. Meus pais definiram uma quantia diária a ser consumida para que o guaraná durasse mais. Geralmente era meio copo para cada por dia, e assim, ele durou uns 3 dias. Foi algo tão “fantástico” que tive que postar uma foto no facebook (acho que na época era Orkut) como se eu tivesse acabado de ganhar um cachorrinho ou uma moto.
Foto original

As caixas de bombom Garoto eram as minhas favoritas, sempre deixávamos a caixa em algum lugar alto ou bem escondido para seguirmos estritamente a quantidade diária. Mais de 1 ano depois de tudo ter acabado, estávamos fazendo mudança e, ao tirar a geladeira do lugar achamos um Chocolate Garoto “Torrone”, nem era um dos melhores mas quando não se tem nada até o “Crocante” que eu não gostava eu comia com alegria. Todos ficaram interessados no bombom, e a maneira que encontrei pra eu ficar com o bombom, vencido ainda por cima, foi pagar 5RBM pra cada uma de minhas irmãs, o chocolate mais caro da minha vida, mas sempre valia a pena.

No final, descobri um site que vendia bombom Garoto vencido em HongKong e eu comprava, ahhh, comprava, e nunca me fez mal, pelo contrário, me fazia sentir mais perto de casa, pra matar a saudade até chocolate fora da validade servia.


7 comentários:

  1. Eu comprava pelo Taobao, colocava 巴西巧克力 e ia procurando até eu achar o que queria. São pouquíssimas as lojas online na China que vendiam.

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  2. Owwww que lindo, adorei essa historinha de vida. Acho que a melhor oportunidade foi conciliar as 2 culturas e construir uma personalidade como a sua: que valoriza cada momento e sabe dividi-lo com os companheiros. Parabéns!

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  3. Ni hao! Ola querida, bom saber que tiveste uma experiência em Kunming, estou vivendo aqui com a minha família desde o inicio de janeiro com mais algumas famílias do Brasil. Parabéns pelo seu blog. Tenho um também caso queira conhecer, fisioterapiacomvoce.blogspot.com Um grande abraço pra ti!

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  4. ola karina! sabe onde posso ver brasileiros na china q queiram algo daki do brasil? venho em setembro e nao acho um lugar onde possa ofertar frete. obrigada, adorei o blog!

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    1. Olá, tente no grupo "Brasileiros na China" do facebook, mas que eu saiba não existe uma ferramenta ainda pra unir essa necessidade ao serviço.

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